domingo, 24 de maio de 2015

As Probabilidades de Deus

Você está jogando pôquer com seus amigos e um deles, o Fred, tira Ás, Rei,
Dama, Valete e Dez de espadas – um Royal Flush, a mão mais alta do jogo –
cujas chances são de 650 mil para 1. Como esse Fred é sortudo! Na próxima
rodada, ele tira as mesmas cinco cartas. Certo, isso é pouco comum, mas vocês
se conhecem desde a infância. Mas aí ele tira de novo, e depois mais uma vez.
Certo, vocês foram padrinhos um do outro em seus casamentos, mas isso não
evita seus sentimentos homicidas. Quando ele tira as mesmas cartas
novamente, você vai atrás de uma arma.
Quando algo incrivelmente improvável ocorre, é muito difícil acreditar
que é por acaso. Fred está roubando, é óbvio. Ele vai jurar que não está, mas é
quase impossível acreditar.
Mas vamos pensar. Há algumas propriedades físicas básicas do Universo,
como a carga dos elétrons, a força precisa da gravidade, a velocidade da luz
etc., e cada uma poderia ter um número infinito de valores. A gravidade (por
exemplo) poderia ser um pouco mais forte, muito mais forte, ou um pouco
mais fraca. Se alguma dessas propriedades fosse mesmo só um pouco
diferente, então nosso Universo poderia não ter existido – com seus planetas,
estrelas, vida e nós, seres conscientes, racionais e morais. As chances contra
todas essas propriedades terem ao mesmo tempo o valor necessário preciso
para esse Universo existir são literalmente astronômicas.
Mesmo assim, aqui estamos.
Se você pegou seu revólver quando Fred tirou seu quinto Royal Flush,
talvez devesse pegá-lo agora também, porque, quando algo incrivelmente
improvável ocorre, é muito difícil acreditar que possa ocorrer por acaso. E não
há nada tão incrivelmente improvável como o próprio Universo, entre todos os
possíveis universos que poderiam ter existido.
Haveria obviamente só um ser capaz de embaralhar essas cartas.
Se é provável que Fred esteja roubando, então é mais do que provável que
Deus exista e seja responsável por este Universo.
 Andrew Pessin

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